terça-feira, 24 de setembro de 2024

Radio Silence




 Quando eu tinha uns doze anos, vivia com muito medo de fantasmas. O medo era algo quase inexistente durante o dia, mas quando caía a noite, a tarefa de adormecer tornava-se muito difícil, face ao medo que sentia ao estar sozinha. Virava-me para o lado da porta e ficava de olhos postos nela, como que à espera que algo sobrenatural fosse bater à porta ou simplesmente surgir. Nada disto faz muito sentido, uma vez que falamos de fantasmas, estes podiam aparecer em qualquer lado… mas por algum motivo adormecer de costas para a porta, é algo que até hoje, é um pouco difícil. Não me lembro exatamente quando deixei de ter medo de estar sozinha, mas felizmente essa paz chegou. Viver com o medo é extremamente cansativo, para além de que é também algo que nos isola. Eu nunca falei honestamente disto a ninguém. Talvez o meu medo em falar, fosse exatamente porque sempre que ouvia algo sobre o assunto, o meu medo só se munia de mais imagens e palavras que o tornavam ainda maior. Hoje, creio que este medo algo irracional, vinha de uma coisa que me assusta muito ainda hoje: o silêncio. 


Estar só comigo, em silêncio, é desafiante. Sinto uma grande tristeza, que normalmente não se faz sentir, desde que esteja acompanhada de alguma maneira. O meu medo de adormecer sozinha estava muito ligado a um sentimento de insegurança, claro. O desconforto que sinto no silêncio, é o mesmo que me torna consciente de tudo o que me assusta… e eu com grande mestria, tento distrair-me para não o sentir. 


O meu truque para conseguir adormecer foi, durante muito tempo, ouvir rádio. Ficava ligado a noite toda, ainda que baixinho. Como uma presença que me ancorava ao mundo lá fora e me impedia de me deixar levar pela negritude assustadora em mim. Ontem, também foi assim. Estava muito triste, desanimada… num estado de vulnerabilidade enorme e com a sensação de que a vida é demasiado bruta. Como se tivesse voltado atrás vinte anos, a estratégia foi a mesma. Desta vez reconheci os fantasmas dentro de mim. Não os atribuí a uma qualquer entidade paranormal. De alguma forma, estes que são meus, conseguem ser ainda mais assustadores.


A evasão ao que mais me assusta, é  completa ao sintonizar-me com o outro. Mudar o foco da minha atenção, para o que me é externo. Ligar-me a algo, em tudo desconexo do que me amedronta. Ao longo de todo este tempo, andei a fugir de mim. Vivi bem e aparentemente sem medo... mas esta coisa de fugirmos de nós próprios, obviamente só pode dar merda. Aos poucos, parece que fui calando muita coisa, em nome da minha segurança e paz. 


Há pouco tempo, num vídeo do instagram, chegou-me esta ideia, e logo ressoou em mim: paz e liberdade não andam de mãos dadas. A paz, que tanto desejamos, é muitas vezes uma mordaça. Em nome da paz, trocamos a nossa liberdade pela aparente tranquilidade. A pergunta que mais me bateu foi: quem está a beneficiar desta paz? Será que eu, tantas vezes obedientemente calada, estou a ganhar com essa paz? Não. Quem mais ganha com a minha natureza dócil, é quase sempre o que me oprime. No silêncio, que tanto me assusta, espero finalmente parar de correr na direcção oposta. Quero ir ao encontro do que me amedronta e perceber finalmente, como viver livre e sem medo.


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Motionlessly Sick

"Oh I see, I see... what I feel is not overwhelmed, suffocated or constantly anxious. What I'm feeling is in fact, motion sickness. But I'm not riding a train or taking a bus... I'm not travelling in any way. The fact that I'm not moving at all, is the problem and the cause for my motion sickness. Here's how I see it: motion sickness is a malfunction due to the inability of the brain to process conflicting signals. Example: Your eyes can see the landscape fly by while you're perfectly still. I'm also perfectly still. Sitting with my laptop on top my legs and the world comfortably at the reach of my fingertips. But my mind is racing. Flying. Performing quantum jumps from to do lists, lifelong dreams, memories, survival tasks (DON'T FORGET TO EAT), doom scroll, creative inspiration and responding to messages. Back to don't-forget-lists. Even though I'm perfectly motionless, I'm not resting. I'm not moving a muscle, but I'm anything but calm. And all of this constant back and forth... is making me sick." Words from this morning + photo from another lifetime, waiting for a train somewhere in the Netherlands.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

CRUA

CRUA Magazine

A realidade é crua, e por isso porque não dar uma dentada sushiana na vida?
Esta CRUA é tão deliciosa como bonita, e não menos belo é o que junta este bando de idiotas cheios de ideias e criatividade: vontade.

É com um enorme orgulho que digo que faço parte desta primeira edição, por isso se tiverem curiosidade dêem um olhada no "Antes do Silêncio".

http://cruamag.com

Curvo-me de louvor e agradecimento perante estes indivíduos de carne viva!
Obrigado!

domingo, 2 de outubro de 2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quem somos nós?
Mora dentro de mim uma pessoa que não conheço.
O que quero dizer é: não sei.
É tão difícil não saber o que se quer.
Andar em frente sabe-se lá para onde.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

trinta minutos depois das oito.

E lá vai ela pela rua às 8h30m da manhã,a andar ao ritmo salutar das pessoas citadinas e da sua vida corriqueira. Nem sequer imaginam que vai no sentido contrário... engana bem, é verdade. Convenceria, até um olhar atento, que faz parte do quadro matinal. Ele corre no mesmo sentido, mas não exactamente na mesma direcção. Apesar de tudo, movimentam-se numa quase sincronia.
Fecha as janelas para escurecer o quarto e antes de fechar os olhos não resiste a ouvir um pouco da sua voz:
- Sinto-me uma puta do sistema. - diz ele.
Ela sorri, e sente-se feliz por o seu sentido de humor odioso lhe cair tão bem quase em todos os horários. Tenho quase a certeza que foi muito por isso que me apaixonei - pensou. Ele lá continua, a amaldioçar os transportes, a dor no estômago, a falta de tacto, o excessso de burocracia e as velhas que não o deixam pregar olho nem um minuto. Ela sorri, mais uma vez, tudo lhe soa a poesia.
Até amanhã, meu amor.

sábado, 24 de setembro de 2011

New York, I Love You

No universo mui vasto dos meus sonhos podemos encontra o sonho de viajar, de conhecer outros espaços, outras pessoas… as ditas culturas. De facto, a cultura, algo tão complexo, pode resumir-se a algo tão simples: consequência do espaço, do tempo e dos seus intervenientes. Claro que esta é uma definição muito pouco certa e nada científica... verdadeiramente nem é uma definição. É nada mais que o meu desejo ao conhecer um lugar novo: conseguir sentir a sua essência.
Este é um filme que me preenche muitos dos sonhos. Não é só de um filme que falamos, falamos de um projecto que reúne várias histórias, escritas e realizadas por pessoas diferentes, todas elas inspiradas na inebriante cidade de Nova Iorque.
Esta partilha tem como resultado uma perspectiva muito interessante da cidade. Mas o que vejo de mais interessante, chega a ser a incrível malha de ligações entre as pessoas que nela vivem. A maravilhosa maneira como se encontram e... vivem esse momento.
Para mim, esse episódio de tempo que jamais volta, é muito querido. Acredito que o grande interesse pela fotografia e pelo vídeo venha, exactamente, desse fascínio pelo momento... e da grande vontade em o tornar eterno.

Este filme faz-me acreditar na inteligência do caos. Na beleza do acaso. E na inevitável velocidade da vida.

Acerca de New York, I love You (2009)