domingo, 18 de janeiro de 2009

A Carta - Parte I

A manhã estava calma.
Surpreendentemente, naquele dia, os finos vidros das janelas pareciam ser suficientes para impedir a realidade da grande metrópole de entrar pela casa adentro.

Apesar de tudo não conseguia dormir.

Aquela carta...

Olhava fixamente para os objectos e eles pareciam mover-se num ritmo silencioso e subtil.
O som do seu respirar parecia ensurdecedor.
Todos os gestos insuportáveis, ansiosos.

A calma não chegava e a paz também não.

Aqui, desesperada por não conseguir dormir, apercebi-me de como era ridícula.
Patética. Pequena.
Como era pequeno o meu mundo...

Acabei por dizer para mim mesma:
- Clara, precisas de um pouco de perspectiva. Este quarto, este prédio, esta cidade são apenas uma pequena partícula do vasto universo. E tu... tu és apenas humana. Uma carta é apenas um papel.

Sacudi os cobertores, levantei-me num pulo.
Abri todas as janelas de par em par.
Deixei entrar o ar da manhã. Puro e real.

Agarrei no papel em branco. Subi para cima do móvel mais alto e esperei.
Tudo fez sentido.

1 comentário:

vestido-cinza disse...

já tinha lido ambos, sabes bem q gostei (: